Os últimos acontecimentos da derradeira temporada da Série Game of thrones (GOT) causaram verdadeiro incêndio nas redes Sociais. Mais do que king’s landing (Porto Real), as discussões pegaram fogo. Que tal entrarmos na onda e debatermos isso à luz da gestão de conflitos? Entre mortos e feridos, talvez ainda dê tempo de aprendermos algo com o ep.5 da 8ª temporada. Se você quiser chegar ao Trono, caso ele ainda exista, esse artigo pode te ajudar.
A mediação de conflitos, regulada pela Lei 13.140 de 2015[1], é um método de gerenciar conflitos que aposta na autonomia das partes para lidar com o caso. De fato, com a ajuda de um profissional capacitado e imparcial em relação ao conflito, é possível melhorar o ambiente de comunicação a ponto de que as partes possam criar um arranjo pacífico para a questão posta.
Nesse viés, o Código de Processo Civil de 2015, reconhecendo a relevância do instituto, deixou claro o estímulo à autocomposição dos conflitos por meio da conciliação e da mediação, em seu art. 3º, §3º:
CPC, art.3º, § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.
Da Diferença entre a Negociação e a Mediação
A negociação, presente em todas as temporadas da série, difere-se da mediação[2]. No entanto, são institutos que se tocam a todo o momento. Tal se dá porque a negociação é um campo comunicacional de troca de influências, na tentativa de uma autocomposição. Para Deepak Malhotra:
“a negociação é o processo pelo qual duas ou mais partes que veem uma diferença em interesses ou perspectivas tentam chegar a um acordo.”[3]
Por sua vez, a mediação é uma negociação assistida por um terceiro imparcial. O mediador, por meio de técnicas e de posturas específicas, visa a auxiliar nessa negociação entre as partes. Assim, a negociação está dentro do âmago da mediação. Na pena de Diogo Almeida e de Fernanda Medina Pantoja:
“A mediação pode ser definida, em síntese, como um processo dinâmico de negociação assistida, no qual o mediador, terceiro imparcial e sem poder decisório, auxilia as partes a refletirem sobre os seus reais interesses, a resgatarem o diálogo e a criarem, em coautoria, alternativas de benefício mútuo, que contemplem as necessidades e possibilidades de todos os envolvidos, sempre sob um perspectiva voltada ao futuro da relação.”[4]
Só se tem sucesso na mediação com o acordo entre as partes?
A mediação, presente nos mais diversos agrupamentos humanos, é constituída da figura de um terceiro que busca fomentar o diálogo entre as partes – verdadeiras protagonistas do conflito. Com precisão, o art. 4º, § 1º, da já citada lei explicita o cerne da mediação:
Lei 13.140/2015, Art. 4º, § 1º O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito.
Ainda que não se consiga um acordo, muitas vezes o simples fato de as partes concordarem que discordam, já serve para acalmar os ânimos e permitir uma disputa mais leal. Nesse passo, a melhora no ambiente comunicacional é o principal objetivo da mediação, podendo daí ocorrer acordo ou não[5]. É o que defendemos. Busca-se, primariamente, criar um ambiente de confiança com exposição clara das necessidades e interesses dos envolvidos, estimulando-se a empatia e o engajamento mútuos no conflito.
Não foi o que ocorreu no último domingo, em Porto Real.
Força Bruta, Negociação e a Política em GOT:
Na impetuosa batalha do episódio 05, fomos apresentados a um cenário de “Fogo e sangue” na saga pelo Trono: para alguns, uma surpresa; para outros, um retorno à essência “raiz” da série, já que não há – ou não deveria haver – final feliz em GOT[6].
Em meio às cenas de ação, é possível analisar as tentativas de arranjos negociais nessa última temporada. E a negociação é tema que, se por um lado, não se confunde com a mediação, lhe é tão essencial como a liberdade é para os Dragões.
Ainda numa apertada síntese sobre a mediação, esta poderia ser definida como uma negociação assistida, daí a essencialidade de se saber negociar, seja para as partes, seja para o mediador.
Em GOT, devida à intricada trama, dificilmente se vê um procedimento de mediação tal como nos moldes atuais, porque quase sempre todos os personagens tem interesse nos assuntos tratados, não havendo, portanto, um terceiro imparcial, sem interesse no conflito, no papel de mediador – mesmo que Petyr Baelish tente te convencer do contrário.
Desse modo, o estudo das negociações, seus sucessos e fracassos, é essencial para a prática da mediação, corroborando ainda mais sua utilidade.
De acordo com o Programa de Negociação de Harvard, segundo um de seus cofundadores, William Ury, temos mais chance de suprir nossas necessidades quando enxergamos nossos interlocutores como cocriadores[7] de uma solução cooperativa de um problema comum. Ou seja, ao invés de presumirmos a má-fé[8], devemos “sair de cena”[9], de modo a alcançar um estado mental distanciado de nossas reações mais impulsivas. Nesse sentido, o autor aconselha:
“Não fique furioso, não revide, consiga o que você quer. Em suma, a coisa mais natural a fazer ao se defrontar com uma pessoa ou situação difícil é reagir. E é também o maior erro que se pode cometer.”[10]
A busca desse estado mental serve para refletirmos ponderadamente sobre as razões – reveladas e ocultas – dos comportamentos dos envolvidos no conflito. “Se eu estivesse do outro lado do campo de batalha, faria o mesmo que eles? Se eu tivesse nascido no seio daquela Casa, pensaria como eles?”. Essas indagações são essenciais para uma eficiente negociação e capazes de possibilitar uma cocriação de soluções viáveis, seja com a presença de um mediador (terceiro imparcial), seja por uma negociação exclusiva entre as partes.
No entanto, nada é tão simples em Westeros. Assim, para nos determos em uma análise específica, focaremos na polêmica decisão da Dayenerys Targaryen de incendiar Porto Real e, posteriormente, especularemos acerca de uma alternativa negociável.
Mapeamento do conflito, preparação da negociação e tomada de decisão:
De modo sucinto, a negociação pode ser dividida em três fases: análise, planejamento e discussão.[11] Como quase todas as negociações são precedidas de conflitos, a análise da fase negocial perpassa pelo entendimento mais amplo possível do conflito, ao que muitos dão o nome de “mapeamento do conflito”.[12] Trata-se de uma verdadeira exploração do conflito, cuja máxima é observar e relatar.
No decorrer da fase exploratória do processo de tomada da decisão negocial, o primeiro passo é termos consciência da situação conflituosa. Em outras palavras, devemos inventariar quais são os elementos do conflito: o que, quando, onde, com quem e como se dá o conflito. Além disso, devemos nos atentar aos elementos conhecidos e velados, bem como à dinamicidade desses elementos no desenrolar dos fatos.
No que tange ao conflito em análise, temos como resposta à pergunta “o que?” justamente a disputa pelo Trono de Ferro e o controle político dos sete Reinos. Mais imediatamente, a tomada da capital, Porto Real (king’s landing).
Por sua vez, em resposta às perguntas “quando?” e “onde?”, temos que o fato ocorria em uma época indeterminada, em Westeros, especificamente em king’s landing, após a batalha contra o Rei da Noite, num dia com sol, sem chuva[13].
Quanto à pergunta “quem?” temos, de um lado, Cersei, na Fortaleza Vermelha, protegida por Euron e sua frota de navios, ao lado da Companhia Dourada e do remanescente do exército Lannister. E de outro, Dany, Tyrion, Jon Snow, e o restante das forças Nortenhas, com os Imaculados e Dothraki.
E quanto à pergunta “como ocorre o conflito?”, por ser mais abrangente e por se misturar à narrativa dos fatos, sua resposta e análise já vem sendo feita no texto e continuará nos próximos parágrafos. Ressalta-se que a enumeração dessas perguntas se dá tão somente para fins didáticos sendo, no entanto, evidente que as respostas se mesclam.
Nesse ínterim, o estudo sobre “como ocorre o conflito” percorre a análise de todos os outros elementos já abordados e, em especial, o estado circunstancial em que os personagens se encontravam.
Dessa forma verifica-se que, em razão das severas derrotas militares e morais, Dany encontra-se num momento tremendamente perigoso para qualquer estrategista: o de ascensão ao poder, numa investida militar feroz e temporariamente bem sucedida.
Com os nervos à flor da pele, em meio à batalha, é instintivo querer extrapolar no contra-ataque e pesar a mão. A história humana é cheia de retornos de pêndulos, em que, nas voltas que o mundo dá, os oprimidos se tornam os opressores, e por vezes com maior truculência.
Ainda na fase exploratória de como se dá o conflito, e no que tange a quem são os personagens, desde logo é válido pontuar que é preciso que estes possuam autoconhecimento, tornando-se conscientes das próprias fraquezas e forças. Assim agindo, será possível uma gestão adequada do conflito, de forma a instruir uma correta tomada de decisão (negocial ou não).
Nesse sentido, nos remetemos aos ensinamentos clássicos de Sun Tzu:
“Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, ainda que enfrente cem batalhas, jamais correrá perigo. Aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, às vezes ganha, às vezes perde. Aquele que não conhece nem o inimigo nem a si mesmo está fadado ao fracasso e correrá perigo em todas as batalhas.”[14]
Nesse sentido, no viés do autoconhecimento e situacional, a Dayenerys havia acabado de executar um conselheiro (Varys), um dos personagens mais astutos da série; andava extremamente desconfiada do outro membro do conselho (Tyrion Lannister), cujas recomendações ocasionaram perdas militares e pessoais para a Mãe dos Dragões. Entre essas perdas, destacam-se as mortes de Sir Jorah Mormont, de Missandei, e de dois de seus três dragões, os quais ela via como filhos.
Verifica-se, ainda, que, de tão abalada, Dayenerys sequer estava se alimentando bem (talvez temendo um envenenamento) o que, biologicamente, pode afetar o seu poder decisório. Além disso, mesmo com papel essencial na vitória dos vivos contra os mortos, contra o Rei da Noite, não se sentiu próxima do povo de Westeros, tendo esse isolamento sido marcadamente demonstrado no episódio 4ª da 8ª temporada.
Ainda na fase de mapeamento do conflito, no vetor do heteroconhecimento e circunstancial, do lado de dentro da fortaleza vermelha, nunca antes tomada, a nada menos poderosa Cersei Lannister lhe antagonizava.
Com os conselhos de Qyburn, Cersei arquitetou a aquisição de vantagens estratégicas e militares. Primeiro, mentiu ao não levar seus exércitos ao Norte, preservando-os. Segundo, enquanto seus inimigos se desgastavam na luta contra o Rei da Noite, fortaleceu suas muralhas[15]. Terceiro, contratou mercenários vindos de outro continente, a Companhia Dourada. Como quarto destaque, no dia da batalha, a então Rainha dos Sete Reinos “protegeu o povo”, dando-lhe abrigo dentro da Fortaleza Vermelha, mas verdadeiramente imaginando-os como uma cortina de ferro humana, de forma a aumentar os custos políticos da morte de inocentes.
Em termos técnicos, com essas atitudes, Cersei fortalecia sua BATNA/MAPAN[16], ainda que de modo moralmente questionável. Ou seja, ela robustecia sua “Best Alternative to a Negotiated Agreement” (BATNA), ou sua “Melhor Alternativa a um Acordo negociado” (MAPAN), isto é, supria suas necessidades sem precisar acordar com seus adversários. No caso, a BATNA escolhida foi proteger a capital dos Sete Reinos por meio do combate. Em trecho preciso:
“A razão pela qual se negocia é produzir um resultado melhor do que se conseguiria sem negociação. E que resultados seriam esses? Quais seriam as alternativas? Qual seria a sua MAPAN – Melhor alternativa para um acordo negociado? Este é o padrão de medição com que qualquer proposta de acordo deve ser comparada. Este é o único padrão que poderá protegê-lo tanto de aceitar termos excessivamente desfavoráveis quanto de rejeitar termos que seriam de seu interesse aceitar. Sua MAPAN não apenas é uma forma de mensuração melhor. Tem também a vantagem de ser suficientemente flexível para permitir a exploração de soluções imaginativas. Em vez de eliminar qualquer solução que não alcance o seu valor finar, você poderá comparar a proposta à sua MAPAN para verificar se ela atenderia melhor aos seus interesses.”[17]
A Escalada do Conflito – Fogo e Sangue em Porto Real
Ao prosseguir na investigação do conflito, verifica-se que, embora com maior tempo de preparação, Cersei não conteve a fúria de Dayenerys. Drogon foi fulminante e arrebatador – o recurso militar mais poderoso em jogo fez seu nome.
O cenário da decisão de Dany, portanto, era esse: uma vitória militar extremamente provável, com a cidade rendida, ao toque dos Sinos.
Nesse passo, a delimitação do principal objeto deste artigo é a decisão de Dayenerys por atacar civis e tropas rendidas e destruir instalações não militares de King’s Landing, quando a vitória já lhe era iminente, ao invés de adotar uma negociação com os envolvidos (inimigos rendidos e o povo).
Num olhar prematuro, os fãs incondicionais da Quebradora das Correntes, outro Título da Mãe dos Dragões, defendem sua truculência, inclusive contra civis, com base nos ensinamentos de Maquiavel: “entre governar com base no medo ou no amor, prefira o medo”. Argumentam ainda, que, numa conversa privada com Jon Snow, Dany teria finalmente concluído que ser amada pelo povo de Westeros lhe era impossível “na condição de estrangeira”, sendo obrigada a escolher o medo para alcançar o trono.
Num olhar posterior e mais racional, já que afastado do calor do momento, é possível perceber o desacerto de tal decisão do ponto de vista negocial e estratégico. Com efeito, um mediador fez falta no episódio 5º da 8ª temporada, para azar de todos os envolvidos, haja vista que até os aliados quase foram mortos – literalmente – por “fogo amigo”.
Antes de os mais apressados advogarem que GOT teve sucesso justamente por mostrar toda a crueldade humana, sem se preocupar com finais felizes, traz-se a reflexão de que a articulação e a negociação fizeram personagens sem habilidades de luta, ou mesmo sem conhecimento militar, figurarem como favoritos ao trono (Cersei e Sansa) ou pelo menos permanecerem vivos até o momento (Tyrion[18] e Sansa).
Provada a relevância da Negociação em GOT, o desacerto da decisão se revela porque a Nascida da Tormenta se precipitou num momento de ódio – faltou-lhe o autoconhecimento mencionado acima. Não havia qualquer necessidade de, àquela altura, matar civis inocentes para garantir o trono para si (seu objetivo principal).
Do ponto de vista técnico, Daenerys tomou atitudes pouco adequadas aos seus fins e necessidades[19], com altos custos em termos relacionais e materiais, comprometendo o futuro do seu Reinado. De fato, sequer sabemos se o próprio Trono de Ferro resistiu à destruição.
Com efeito, nos parece um caso clássico de profecia autorrealizável[20], quiçá, um autoetiquetamento: ao acreditar que não era amada e respeitada, perdeu a chance de governar pelo amor e pelo respeito, deixando, após o ataque, poucas opções de governo que não o baseado justamente no medo ou no terror[21]. Portanto, tomou atitudes que só ajudaram a concretizar seus receios.
Em outras palavras, Daenerys impediu ou dificultou que o respeito por si pudesse florescer com o tempo, “quebrando a roda das Casas” (sistema social de Westeros), que era seu desejo original. Assim, perdeu a oportunidade de assumir o trono como uma desconhecida estrangeira, aos olhos do povo, que teria minimamente a chance de provar seu valor aos seus súditos.
Somado a isso, o cenário não era tão desfavorável quanto lhe parecia. A boa-fé de Tyrion estava temporariamente comprovada ao lhe entregar o traidor Varys. Ademais, havia ainda o respeito que Jon Snow lhe nutria, jurando-lhe lealdade, apesar de lhe negar os desejos da carne e de confidenciar sua origem biológica à sua família.
Portanto, negocialmente, ao som de “Dracarys!”, a Mãe dos Dragões tomou atitudes que prejudicaram seu relacionamento com aliados (Jon Snow, e os Starks – agora com mais motivos para desconfianças) e futuros súditos (população de capital do Reino). Dito de outro modo, na linguagem popular, Daenerys “queimou cartucho”, pois utilizou medidas desproporcionais aos objetivos imediatos que possuía em mente.
Na linguagem técnica, ela desperdiçou recursos e prejudicou a construção de uma relação de confiança com seus interlocutores mais caros. Com Tyrion, quebrou a promessa de cessar o ataque com a rendição ao Toque dos Sinos e, com Jon, tomou uma atitude desproporcional que ele jamais esperava. Suas ações, portanto, arranharam ainda mais a relação com o povo, e com a Casa Stark.
Das duas, uma: ou sua BATNA/MAPAN era desconhecida e ela não sabia que não precisaria atacar inocentes para chegar ao trono; ou era muito precária e custosa (para o caso de ela propositalmente ter estipulado como “queimar tudo” uma alternativa viável a um acordo com os sobreviventes).
Alternativa à barbárie
A alternativa mais vantajosa, negocial e politicamente, seria punir apenas Cersei, por ato de traição, de modo a poupar a população, os militares rendidos e as instalações da capital, negociando com os sobreviventes a organização para seu futuro reinado. Dany poderia ter protegido o consenso naturalmente surgido pela rendição da cidade, nítido com o soar dos sinos e com a baixa das armas do exército Lannister.
Assim agindo, Daenerys capitalizaria recursos do inimigo aos seus interesses e necessidades legítimos, para o bem do reino e das futuras negociações do porvir. Se seria aceita, amada ou temida, não se sabe. Possivelmente, o povo sentiria todas essas emoções ao mesmo tempo e em diversos graus. No entanto, o amor e o respeito precisam de tempo para que suas sementes germinem, e queimar a terra na qual poderiam florescer, certamente, não ajuda. Às vezes, é só de uma chance que precisam. Porém, não foi dessa vez; não em Porto Real.
O custo negocial e político de se governar pelo medo e pelo terror
O que se pode notar da adoção de uma estratégia de governo pelo medo e pelo terror é a vida em constante desconfiança, prato cheio para loucuras e paranoias. A longo prazo, é quase sempre uma postura autodestrutiva, até pela escalada dos conflitos com os ciclos retroalimentados de violência e de vingança que se instauram e se perpetuam.
Inclusive, há quem aposte que Daenerys sequer chegará ao Trono de Ferro, possivelmente assassinada por um de seus antigos aliados – veremos. De qualquer forma, fica o oportuno registro de que, em GOT, “a noite é escura e cheia de terrores”.
Conclusão
Nesse breve espaço, pôde-se avaliar a decisão de Daenerys Targaryen sob o viés da negociação e do mapeamento do conflito, assuntos essenciais para a prática de mediação.
Conclui-se que havia alternativas ao ataque a inocentes, pelos motivos acima elencados, tendo-lhe faltado uma visão prospectiva de seu eventual Reinado.
Na vida ou na arte, sem prejuízo de uma imitar a outra, o caminho árduo para Trono também é permeado de consensos, com boas oportunidades de reforçarmos laços legítimos de respeito mútuo. Saibamos encontrar essas oportunidades, cultivá-las e criá-las, sempre que possível.
Apenas dessa forma é possível contribuir para a criação de uma cultura de paz[22], “for the good of the realm”.[23]
Agradecimentos
A produção desse texto não seria possível sem a arguta e preciosa contribuição da advogada Anna Paula Vieira Ribeiro.
Rio de Janeiro, 15 de maio de 2019
Leonardo Scofano Osso de Azevedo
Advogado e Mediador de conflitos
Referências:
[1] Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública.
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia.
[2] Para um profundo debate sobre o conceito de mediação e sua diferença para o conceito de conciliação, checar “A mediação no novo código de processo civil / coordenação Diogo Assumpção Rezende de Almeida, Fernanda Medina Pantoja, Samantha Pelajo. – Rio de Janeiro : Forense, 2015, páginas 55 e seguintes.”
[3] Acordos quase impossíveis : como superar impasses e resolver conflitos difíceis sem usar dinheiro ou força / Deepak Malhotra ; tradução: Francisco Araújo da Costa. – Porto Alegre : Bookman, 2017, p. 5.
[4] Mediação de Conflitos: para iniciantes, praticantes e docentes / Coordenadoras Tania Almeida, Samantha Pelajo e Eva Jonathan – Salvador: Ed. JusPodvim, 2016, p.88
[5] “A mediação pode adotar procedimentos e concepções de uma ou mais escolas teóricas, como a linear (ou de Harvard), a transformativa, a circular-narrativa etc. Nem sempre a obtenção do acordo é o único objetivo. Como método de análise interdisciplinar do conflito, a mediação visa adicionalmente à fomentação do diálogo e à harmonização, no acordo final, dos interesses de todos os envolvidos.” In Mediação de Conflitos: para iniciantes, praticantes e docentes / Coordenadoras Tania Almeida, Samantha Pelajo e Eva Jonathan – Salvador: Ed. JusPodvim, 2016, p 90 e 205 (especificamente sobre o modelo de mediação transformativa).
[6] Fala clássica de Ramsay Snow: “Se você acha que isso vai acabar bem, não está prestando atenção.”.
[7] Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões /Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton; tradução Ricardo Vasques Vieira – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Solomon, 2014, páginas 34, 47 e 48.
[8] “Considere todas as possíveis explicações para o comportamento do outro lado. Não comece pressupondo incompetência ou má-fé.” In Acordos quase impossíveis : como superar impasses e resolver conflitos difíceis sem usar dinheiro ou força / Deepak Malhotra ; tradução: Francisco Araújo da Costa. – Porto Alegre : Bookman, 2017, p. 141.
[9] Negocie para vencer: instrumentos práticos e criativos para chegar ao sim / William L. Ury; [tradução Regina Amarante]. – 2. Ed. ver. E atual.. – São Paulo : HSM Editora, 2013, páginas 55 e seguintes.
[10] Negocie para vencer: instrumentos práticos e criativos para chegar ao sim / William L. Ury; [tradução Regina Amarante]. – 2. Ed. ver. E atual.. – São Paulo : HSM Editora, 2013, p. 74.
[11] Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões /Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton; tradução Ricardo Vasques Vieira – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Solomon, 2014, p. 36
[12] Caixa de ferramentas em mediação: aportes práticos e teóricos. / Tania Almeida. – São Paulo: Dash, 2013, p. 59 e 223.
[13] Caso fosse um dia com nevoeiro, neve ou mesmo uma tempestade, o desempenho de Drogon poderia não ser o mesmo.
[14] A arte da guerra: os treze capítulos originais / Sun Tzu; adaptação e tradução de Nikko Bushidô. São Paulo: Jardim dos Livros, 2007, p. 45.
[15] Para um breve relato histórico de que Elizabeth I, rainha da Inglaterra, também jogava seus inimigos uns contra os outros, checar: As grandes estratégias: de Sun Tzu a Franklin Roosevelt, como os grandes líderes mudaram o mundo / John Lewis Gaddis. – São Paulo: Planeta do Brasil, 2019, p 133.
[16] Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões /Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton; tradução Ricardo Vasques Vieira – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Solomon, 2014, p. 105 e ss.
[17] Como chegar ao sim: como negociar acordos sem fazer concessões /Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton; tradução Ricardo Vasques Vieira – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Solomon, 2014, p. 107.
[18] A sabedoria de Tyrion Lannister/ Lambert Oaks; [tradução de Eloise De Vylder]. – São Paulo: Universo dos Livros, 2017, p. 5.
[19] As grandes estratégias: de Sun Tzu a Franklin Roosevelt, como os grandes líderes mudaram o mundo / John Lewis Gaddis. – São Paulo: Planeta do Brasil, 2019, p 107.
[20] Comunicação não-violenta : técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais / Marshall B. Rosenberg ; [tradução Mário Vilela]. – São Paulo: Ágora, 2006, páginas 65-66.
[21] Era um bom momento para aprender com seus inimigos, por exemplo, com a fala de Tywin Lanniser: “Quando seus inimigos o desafiam, trate-os com aço e fogo. Mas quando caem de joelhos, ajude-os a colocar-se novamente em pé.” In [21] A sabedoria de Tyrion Lannister/ Lambert Oaks; [tradução de Eloise De Vylder]. – São Paulo: Universo dos Livros, 2017, p. 189.
[22] A mediação no novo código de processo civil / coordenação Diogo Assumpção Rezende de Almeida, Fernanda Medina Pantoja, Samantha Pelajo. – Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 43; Mediação de Conflitos: para iniciantes, praticantes e docentes / Coordenadoras Tania Almeida, Samantha Pelajo e Eva Jonathan – Salvador: Ed. JusPodvim, 2016, p. 124 e 531 etc.
[23] “Para o bem do Reino”, em tradução livre, da frase tradicional de Varys.